quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Quadrilha usava mulheres bonitas para cooptar prefeitos

Quadrilha usava mulheres bonitas para cooptar prefeitos.

BRASÍLIA - Luciane Lauzimar Hoepers tem 1,75 metro de altura, olhos verdes e 33 anos de idade. Vista em revistas masculinas, sites de ensaios sensuais e programas de TV, ela também era uma das armas da quadrilha acusada de desviar R$ 50 milhões de fundos de pensão de servidores de prefeituras e governos estaduais. Segundo a Polícia Federal (PF), o grupo usava mulheres bonitas para se aproximar de prefeitos e dos gestores dos fundos e captar recursos para a empresa Invista, operada pela quadrilha.

- Alô, prefeito Júnior. Tudo bem? Aqui quem fala é a Luciane da Invista. Tá lembrado?
- Tô lembrado, difícil esquecer - disse o prefeito identificado apenas como Júnior, no relatório com gravações telefônicas feitas pela PF.

Luciane foi presa na quinta-feira, na Operação Miqueias da PF para desbaratar a quadrilha que fraudava os fundos de pensão. As investigações levaram à prisão de ao menos 20 pessoas na semana passada, além do cumprimento de dezenas de mandados de busca e apreensão. Ao longo de 18 meses de investigação, grupo movimentou R$ 300 milhões.

Luciane mesma reconhece que a beleza abre portas. Em entrevista publicada no site Fluir, do portal Terra, antes de a Operação Miqueias da PF ser deflagrada, Luciane, ou Lu, listou os vários trabalhos como modelo de que já participou: "assistente de palco do programa 'Brothers', na Rede TV, Mulher Bombeiro, 'Casa Bonita', no Multishow, participações no 'Zorra Total' e 'Faustão', da Globo, e ensaios para revistas masculinas e outras". Nessa entrevista ela reconhece que ser bonita ajuda, "porque abre portas". E revela também que seu sonho de consumo é ter um apartamento em Miami.

Ligação com doleiro
A PF identifica Luciane como ligada ao doleiro Fayed Antoine Traboulsi, um dos líderes da associação criminosa revelada pela Operação Miqueias. Os telefonemas interceptados pela PF mostram que Luciane tinha um papel muito ativo na organização, mantendo vários contatos com políticos. Na lista de municípios onde ela procurou prefeitos e ex-prefeitos estão cidades de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Santa Catarina e São Paulo.

Em 14 de março, ela falou com um prefeito que é identificado pela PF apenas como Marcelo. No mesmo dia, entrou em contato com o prefeito de Ponta Porã (MS), Ludimar Godoy Novaes, falando novamente com ele em 23 de abril. Em 14 de março, ela conversou com o presidente do regime próprio de previdência de Porto Murtinho (MS), Douglas Arlindo Placenico Lopes.
Luciane não se limitava a trocar telefonemas. Ela também viajava para fechar os negócios. Em 30 de abril de 2013, em telefonema com Alline Teixeira Olivier, outra integrante da associação criminosa, ela relata que esteve em Tocantins e que ia para o Mato Grosso do Sul.

- Eu estou indo para Mato Grosso do Sul buscar cliente novo, ficar uma semana lá. Tem duas cidades já com cadastro, tudo pronto, deve ser aportado alguma coisa. Ontem eu estava em Tocantins, em umas cidades lá. Há uma propensão de fechar umas três cidades lá em grande - disse Luciane.

- Que bom, viu amiga, que bom - respondeu Alline.
Quase dois meses depois, em telefonema com outra pessoa, a PF anota: "Vale salientar que, já no dia 20/06/2013, Luciane confirma o investimento feito com o Previporã, instituto de previdência social dos servidores de Ponta Porã/MS".
- Deixa eu te, cerca de 70% são aprovados. Não é que exista um critério muito rígido. A gente até aprova muitos projetos. Se tem um mínimo de coerência, e a entidade mostra que tem condições de realizar, é aprovado. A legislação é recente e precisa ser estimulada. - diz Vieira. - A Receita Federal nos autoriza a captação de R$ 400 milhões por ano. Mas o máximo que conseguimos alcançar foram R$ 220 milhões. Então, precisamos autorizar muitos projetos para aumentar a captação de uma forma geral. Tínhamos como meta autorizar mais de R$ 1 bilhão por ano, mas nunca conseguimos.